14.8.16

Sardade se escreve com r, de Rubens

Meu pai me inspira incessantemente. Inspiração à serenidade, à sutileza, aos silêncios, à bondade, às revoluções. Tem algo assim nos olhos do meu pai que vejo brilhar quando ele está feliz, quando ele me conta sobre os filmes que assistiu, que quase fecham enquanto ele dá suas risadas, que me assistem da janela da cozinha enquanto ele me dá um tchauzinho e outra vez vou embora pra longe. E toda vez que vou embora pra longe é como se meu coração partisse em vários pedaços... Um dos maiores confortos do mundo é ser recebida de volta em casa dentro de um abraço dele.

Uma vez ele inventou um prato e deu o nome de “Risoto ao Sol de Agosto”.
Alguns anos atrás ele virou pra mim e falou “vou pintar uma parede da sala de azul”. Comprou a tinta, trouxe pra casa, e me deixou desenhar na parede uma onda enorme usando uma esponjinha de lavar louça.
Outra vez ele virou pra mim e falou "vou escrever outro livro. Quer participar? Desenha a capa? Um menino empinando uma pipa" - e o resultado tá aí nessa foto de quatro anos atrás, antes do lançamento em um bar de cerveja artesanal e um sarau bem bonito.
Há algumas semanas sentamos juntos pra jantar sanduíches e passamos horas conversando sobre nossas conexões com nossas famílias, inclusive as que existem entre eu e ele.
Alguma outra vez ele colocou na cabeça um pacote dourado de um ovo de Páscoa como se fosse um chapéu e ficou fazendo caretas enquanto eu o fotografava aos risos.
Também teve uma noite em que voltamos pra casa debaixo de muita chuva e chegamos encharcados em casa, e nada de mais aconteceu, mas foi uma noite tão boa.
Uma vez ele começou um projeto que consistia em escrever poemas, imprimir em folhas coloridas, e entregar pra quem resolvesse que as manhãs de sábados seriam bons momentos pra se passear pelo centro da cidade.
Toda vez que virei pra ele e contei de algum plano mirabolante, ele me mostrou que ser assim desse meu jeito passarinha aventureira pedaleira vegana de cabelo colorido ou ser de qualquer outro jeito é o jeito que ele vai me apoiar e me amar.

Músicas de ninar, sempre murmuradas
Um beijo na testa ao acordar, ao sair, ao chegar, antes de dormir
Filmes de artes marciais
Café e cigarros
Poesias
Revolución
Das saudades que sinto, a que sinto do meu pai é a que mais aperta meu coração

Vezenquando eu e ele conversamos e conversamos e conversamos sobre mil coisas. Vezenquando nem falamos nada, eu dou uma batidinha na porta do quarto dele, ele me diz pra entrar, me acolhe no colo dele, e nada mais importa e tudo está bem.
“Dia dos pais é todo dia”, ele me disse a última vez que lamentei por mais um dia dos pais que passamos afastados. E todos os dias eu adoraria estar por perto, só pra gente almoçar juntinhos, rir de umas piadas tolas, dar uma passeada pelas ruas, ou poderia só ser mais um dia em que eu fico na porta do quarto assistindo meu pai adormecido e roncando e achando ele o homem mais maravilhoso do mundo.

Profundamente agradecida por ter nessa vida um pai igual ao meu. Que há vários anos impulsiona e estimula a conexão que tenho com meus irmãos e minha irmã. Que há vários anos é minha família. Agradecida por toda liberdade, por todo amor.


“Sardade se escreve com r, de Craudionor”… e de Rubens. <3 div="">
Feliz dia dos pais, pai. Feliz existência essa a minha com a tua.
Hey bobão… me dá um chicletão!


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