29.10.11

Externando

Se eu pudesse eu te faria sofrer com o que eu escrevo e penso, mas não consigo. Ainda não. Os teus olhos virariam cinza-infelicidade e eu esboçaria um sorriso falso e te abraçaria, porque entendo completamente o poder que as lágrimas têm de tirar o castanho dos olhos. Eu desejo te ver chorando desolado e sem calor, nada ao redor além de mim e minha cara de desprezo. Mas tudo isso seria mentira. Porque tudo isso não sou eu.

Prometi mais de uma vez parar de escrever sobre muros brancos e sofás, porque a minha implosão violenta e que me estoura as costelas me satisfaz. Eu desprezo o que sinto e odeio o que eu me deixei sentir por ti, porque aprendi a demonstrar. Eu sorrio do teu lado agora e me sinto uma idiota depois, sozinha e insegura. E aí a minha janela me acolhe e as estrelas discutem meu destino.



Minha irmã diz que isso pode não ser verdadeiro de fato.
E perceba que isso não é infelicidade.
Mas dessa vez eu quis abrir minhas veias e chorar em palavras de um jeito direto.

13.10.11

Outros tantos passarinhos

Bate as asas negras e desajeitadamente alcança o mais alto que o fôlego permite. Fôlego. As narinas já estão tão cheias de fumaça e de princípios de câncer, e a cabeça tão cheia de projetos arquitetônicos de ninho que não é lar.
E aí a TV anuncia a chuva que durará toda a semana, semana contada pelos giros da Terra. O bico dói porque permanece fechado, não deixa cantar, só quando o sol aparece - mas ele não aparece. "Se eu fosse um asteca, quantos eu já teria sacrificado?"
As nuvens cinzas pesadas e densas permanecem acima do topo dos prédios e o ninho começa a ser construído, com terra, com pedaços de folhas, com pedaços de grama que morreu afogada, com pedaços de si. As nuvens choram e os olhos também, porque seu ninho foi desfeito. Ninho que não é lar.
Esconde-se com sua tristeza nas ondas de um mar revolto e espera paciente pelo sol que uma hora volta, hora contada pelos giros dos ponteiros. E planeja mais ninhos que não são lares.
E quando a chuva dá uma trégua, ele constrói seu ninho. Ninho que não é lar, porque não há mais do que um, e lar é singular preenchido de plural. Então a chuva volta e o ninho não se desfaz, e é a minha vez de ficar triste, porque moro em um mundo, mundo que é meu lar, onde os pássaros aprenderam a construir ninhos de cimento.

10.10.11

Semsentimento, semsentir

As noites guardam em suas lufadas de vento quente os tantos planos que eu faço pra um tempo que nunca chega, e isso às vezes me é frustrante. Eu morro de amores que me sufocam e que precisam ser expulsos de mim, eu preciso esbofetear alguém com meus quereres violentos... mas Alguém não vive por perto. Eu não sei onde mora Alguém.

Maya, linda Maya, ela sempre me envolve e dança, me embala, faz das minhas confissões e lágrimas sem sabor uma rima pra canção de ninar pro Sonho que guarda os amores que eu não externo.
Porque eu não sei sentir.



Eu sinto muito... mas eu não sei sentir.

3.10.11

Eu sou louca

Escreverei um manual inteiro de algumas tantas páginas pra ti,
lições inteiras de como me entender e me amar.
(E me ame, por favor, porque eu preciso).

Enquanto tu me adivinhas, rindo do teu jeito imbecil
eu posso inventar as notas pra uma canção que ninguém mais conhece
só a gente
por mais que agora não queira as notas,
só queira os muros da tua casa que eu nunca mais vi
e o sofá velho que me acolheu quando eu fiquei cansada do mundo.
(Invadi a tua vida, a tua casa e me apossei do teu sofá velho).

Na manhã seguinte eu acordei com o cheiro de café,
com um bom dia sussurrado e um sorriso imbecil.
E aí tu deitou no meu colo pra eu te contar alguns fatos
como o de eu ter fugido de casa, ter sido assaltada,
ter encontrado uma moeda de 25 centavos na rua,
ter comprado um sanduíche pra um cara
que estava imensamente triste
porque foi expulso de casa.
(Mas não fui expulsa da tua casa, porque tu gostas de mim).



E eu tanto te quis e te quero que criei um cosmo
e é tudo muito complicado, porque eu gosto das coisas assim,
e porque pelo menos lá eu tenho a certeza de que existirá
enfim
"nós".