23.9.12

Bilhete (des)Anônimo 2

I
"Tenho orgulho da mulher forte e corajosa que és. Me inspiras grandes personagens que conheci em filmes e livros. Tens a leveza da brisa e a força da ventania. Nada em ti se acomoda, represa. És o movimento natural da vida, sem temer que ela um dia termine. Se pudesse nascer de novo, seria Tainah. Minha profunda admiração pelo que és e serás.

Não és só menina-flor: és mulher-liberdade."




II
"Queria ter a tua força neste momento, mas só conto com um coração estilhaçado. Não verei mais teu rostinho, nem os teus cabelos de mulher-liberdade. Guardarei com o carinho e com a admiração que só temos por pessoas que nos mostram um mundo diferente.

Obrigada por ter cruzado meu caminho. Jamais me esquecerei do carinho que sempre tivesses por mim."




(Vi)




São coisas da vida
e a gente se olha
e não sabe 
se vai
ou
se fica.

18.9.12

Assoprando

Acendi uma vela pra Hanuman 
enquanto o vento ia levando tudo embora
a cera aos poucos derreteu
e acumulou-se no peitoral da janela








à noite, mil trovões iluminaram o quarto
cobertas coloridas
livros
sorrisos
e uma confusão de pernas.







Hanuman é um deus hindu, filho do Deus do vento
- ontem o vento arrancou árvores por aqui...

9.9.12

Bilhete Anônimo 1

"Te vejo aí do meu lado, esse cabelo todo jogado, enrolado na ponta feito onda de mar e toda vez que eu te olho eu sorrio. Ai, gurizinho, como pode? É paixão, encanto e amor que eu sinto, eu latejo por ti através de todo o meu corpo, músculos, sangue, formando um som que te embala pra mim. Vem e deita na rede comigo, te faço um suco de limão..."

Eu te ouvia sussurrar em meio aos delírios "mas meu amor, meu amor, que grande tolice... Esse mundo jamais será tão simples..."


Eu acho que te respirei em alguma parte do caminho
e tu espalhou raízes pelos três corações que me habitam
- de meu corpo, de meu pensamento, de minha alma -

Meu pulmão esquerdo tornou-se vermelho de tão quente
virou um forno de onde o sopro vem deixar teu rosto corado
e quando faz muito frio aqui fora, ele põe-se a trabalhar
e eu sinto esse lado de minhas costas ardendo
Na minha pele a queimadura de calor desce por minhas costelas até o umbigo
e a casa de ti, que sou eu, delira de febre interna

Meu pulmão direito comporta-se de modo contrário
ele parece feito apenas de gelo, e sopra muito frio
e quando o sol quase me faz pegar fogo e esse fogo tenta te alcançar
meu pulmão trabalha pra que o clima permaneça ameno
e pra que toda essa quentura não te acorde dos teus sonhos bons
Na minha pele a queimadura de frio desce por minhas costelas até o umbigo
e a casa de ti, que sou eu, congela até os ossos

Meu pensamento voa feito grão de areia carregado pela água
eu já viajei o mundo inteiro e tu esteves sempre junto
levado comigo feito um filho que eu carregaria no ventre
feito os deuses e deusas do meu cosmos tão brilhante
feito meu próprio corpo quando eu o deixo ser levado pela água também

E a minha alma te aceitou de bom grado desde que eu te vi
tão em paz, sorrindo, vida mansa cheio de boa fé
Eu não poderia ter me encantado mais por outro alguém.

Eu te ouvia sussurrar em meio aos delírios "amor, meu amor, me deixe estar por aqui. Essa água nos leva tranquilos, leva a mim, a ti e a nosso nakal. E eu te quero tanto e tanto..."





"Nakal" é uma palavra nahuatl. Significa "mi barco, mi nave"

Inspirado em Casa-de-Pessoa por Ana Terra de Leon :)