27.6.09

Mão de defunto

O frio é peculiar e parece sem fim. A chuva vem de vez em quando, fina. A umidade relativa do ar aumenta, e o tempo para as roupas secarem também. Casacos, sobretudos, luvas e demais roupas reforçadas saem dos armários, colorindo ou não as ruas. Não neva por aqui, mas há dias em que até os ossos enregelam. Pijamas por baixo da roupa cotidiana auxiliam na busca pelo calor. Banhos frios viram quentes, banhos quentes permanecem quentes. Pés gelados. Um rock antigo ainda toca baixinho na sala, mas o vento sul, que agora vem frio e intenso, começa a uivar do lado de fora da janela.

21.6.09

Lagarto no sol

Acordou quatro vezes noite passada. Mas não era nervosismo, calor, frio, sede ou falta de sono. Sentou-se e ficou lembrando da rotina que tinha. Acordar e sair de casa cedo para ir pra escola e, no caminho, ver os carros e a grama mal-cortada na beira da rua cobertos de geada. Sentir o vento frio batendo na cara como lâminas afiadas, enquanto o nariz e as orelhas queimavam.
Depois de meio ano, ainda é possível sentir que os únicos raios de sol de uma tarde de céu fechado podem ser comparados com os mesmos que apareciam algumas vezes nos céus da cidade antiga. O almoço não chega mais com os badalos dos sinos da matriz. Ainda é possível lembrar, como se tivessem acontecido há poucos segundos, histórias engraçadas e momentos felizes. Ainda é possível sentir o coração disparar e apertar por causa de um abraço.
No meio das lembranças, percebeu que, embora tudo ao seu redor tenha mudado, e muitas coisas em si mesma também, muito do sentimento que a habitava antes continuava intacto, como se essa história de distância sequer existisse.
Acordou quatro vezes noite passada. Mas não era nervosismo, calor, frio, sede ou falta de sono. Era saudade.