2.11.11

Fugio*

Saí de casa carregada pelo vento doce
que mora comigo
e dorme a meu oeste:
nós precisávamos ensurdecer desesperadamente
diante dos gritos e das brigas
cheias de ódio, amor e desconfiança
que preenchiam nossos ouvidos e corpos e almas
há dias.
A harmonia sentou-se conosco
no banco colorido de uma praça cercada
e um outro vento, muito frio, vindo do sul
fez dançar nossos pensamentos
e soprou pra longe algumas preocupações.

Sem preocupações
pais e filhos brincavam, ocupando um espaço-tempo só deles
a areia quente sob os pés
e um céu azul sobre os cabelos.

Nós vivemos esse tempo de sol e lua
rodeadas de liberdades e prisões
livres das brigas
na praça cercada de ferros
lendo um livro sobre escravidão
enquanto uma menina voa no balanço,
uns meninos pedalam velozmente
em círculos
e um rei e um imperador escalam uma árvore até o galho mais alto.

E nossos eus flutuando, sensíveis,
serenos, delicados, ondulando
e aproveitando os ventos, o céu, o sol, a lua
por mais que liberdade seja utopia
e nossos corpos continuem sentados no banco
e nossos pés tocando o chão.


*"Fugir" vem do latim fugio

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