6.6.11

Viciado

A fumaça do que te causa devaneio vem ondulando até meu rosto. Eu respiro, enojado - há quanto tempo estamos nessa sala? - e teus sonhos me alcançam. E eu aceito me inserir neles de bom grado, porque é melhor do que ficar aqui e te ver morrendo, sentado nesse sofá se decompondo.
(Não que o morte me seja má companhia. Me sinto até confortável quando o percebo ao meu redor, e sei que ele gosta de me fazer visitas.
Há muitas pessoas perto de nós. Que bar apertado. Que assuntos fúteis. Tem suor de bebida escorrendo nas paredes. Tua respiração está tão profunda, é quase um ensaio de valsa. Tuas mãos seguram firmes meus braços. Alguém abre a porta, o vento vem da garganta do inferno e cora nossas faces, meu cabelo cobre meus olhos mas eu ainda te enxergo. Teu sorriso me enfraquece e eu oscilo entre sonho e realidade. Sinestésico.

Eu te amo insanamente, tu não vês? Tu, dama que se mata. Que me leva junto. Que acorrenta meu peito ao teu e me sufoca, me ensurdece com teus sussurros melódicos. E somos muito românticos. Tua depressão é linda. Teus planos de abandono de tudo me encantam. E eu não me seguro nesse mundo palpável pra poder ficar contigo, e morrer de tristeza sorrindo.

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