26.6.11

My tears dry on their own

Faz sol ali através do vidro sujo da janela, mas alguém notou o quanto eu chovi? Escorre outra lágrima e eu seco e finjo outro sorriso e ensaio meu cada vez mais certo adeus ao céu azul.
As notas e letras se apresentam diante de mim como boas companhias desde que eu aprendi a ler partituras e palavras, no entanto isso muitas vezes talvez não signifique que eu só precise de papel.
Eu tenho planos e isso não me deixa melhor. Porque meu esforço em te manter bem não é reconhecido e ele é enorme, e nunca é planejado: é natural. Porque pater não sabe o quanto me mata ver tua feição mudar por causa de planos nossos desfeitos sem motivos. Porque eu ouço as portas fechando e estou sozinha outra vez, sentada em um sofá no canto da sala, e não é essa a solidão que me agrada. Porque eu sou tão insensível ao ponto de me desfazer em lágrimas ao perceber outra vez que não sou parte do teu mundo.
Choro sozinha, choro e chovo sempre sozinha. E seco as gotas agridoces que escorrem de meus olhos e finjo outro sorriso e ensaio meu cada vez mais certo adeus ao céu azul.


All I can ever be to you
Is a darkness that we knew
And this regret I got accustomed to...

15.6.11

Um pouquinho de vida

Noite passada eu e meu irmão caminhamos por umas ruas que foram abandonadas, muito escuras, a luz do poste apresentando os cantos cheiosvazios de tudo, palcos de artistas que ninguém quer aplaudir. Eu e ele muito juntos, andando bem devagar, conversando, ele fumando uns cigarros que supostamente são cheirosos, dando risada das minhas histórias de sábia demais - mas oh, ele sabe, ele sabe tão bem o quão tola que sou...
Assim seguimos tropeçando nas pedrinhas perdidas da rua, eu e ele sentindo falta das nossas plantações de morango atrás de casa, exalando um doce bafo de bebida de baunilha, eu sempre dando uns passos mais rápidos porque os passos dele sempre foram maiores que os meus.

6.6.11

Viciado

A fumaça do que te causa devaneio vem ondulando até meu rosto. Eu respiro, enojado - há quanto tempo estamos nessa sala? - e teus sonhos me alcançam. E eu aceito me inserir neles de bom grado, porque é melhor do que ficar aqui e te ver morrendo, sentado nesse sofá se decompondo.
(Não que o morte me seja má companhia. Me sinto até confortável quando o percebo ao meu redor, e sei que ele gosta de me fazer visitas.
Há muitas pessoas perto de nós. Que bar apertado. Que assuntos fúteis. Tem suor de bebida escorrendo nas paredes. Tua respiração está tão profunda, é quase um ensaio de valsa. Tuas mãos seguram firmes meus braços. Alguém abre a porta, o vento vem da garganta do inferno e cora nossas faces, meu cabelo cobre meus olhos mas eu ainda te enxergo. Teu sorriso me enfraquece e eu oscilo entre sonho e realidade. Sinestésico.

Eu te amo insanamente, tu não vês? Tu, dama que se mata. Que me leva junto. Que acorrenta meu peito ao teu e me sufoca, me ensurdece com teus sussurros melódicos. E somos muito românticos. Tua depressão é linda. Teus planos de abandono de tudo me encantam. E eu não me seguro nesse mundo palpável pra poder ficar contigo, e morrer de tristeza sorrindo.