9.11.21

Lambendo nuvem

Às vezes eu tenho a sensação de que a gente passou dias perambulando demais por esses caminhos de areias e pedrinhas já muito gastas de tão pisadas.

Sabe, naquele dia que a gente sentou na grama bem na beira do rio, e viu a água correndo e correndo e correndo, eu sinto que foi nesse dia que eu puxei um fio dentro de mim que soltou uma rolha presa forte demais no meu peito.

A gente se olhou no momento em que aquela nuvem roxa manchou o céu gostosamente de sorvete de uva, escorrendo ouro ensolarado pelos cantos... E essa memória faz morada no meu olho esquerdo bem profundamente. Foi do meu olho direito que o desarrolhar do peito sucedeu. A gente se olhou, e do meu olho direito eu chorei escorrendo pelo rosto todo o laranja do céu que a nuvem roxa manchou.


Sorver
Sorver o céu feito laranja
escorrido em lágrima no rosto
Derramado assim por causa da mancha
da nuvem roxa no céu


Ali na beira do rio
corredeira de água folha peixe
Espalhando raio de Sol
(o gosto das lágrimas nas línguas)


Desarrolhando o peito pra sentir
a gente ali sem perambular demais

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