26.8.12

É chegada a hora de sentar-me na cadeira de balanço, trançar os cabelos queimados de sol
refletir sem ser num espelho o quanto o mundo descoloriu-me
e recoloriu-me
Minhas pernas sangram em microcortes causados pelos galhos baixos do caminho
corri me escondendo do sol do meio-dia que avermelhava minha pele
Feito mar de ressaca eu espalho minhas águas pra todos os lados
elas iniciam pelos meus olhos e escorrem pelo meu corpo,
pingam no chão formando desenhos explodidos
Quando as lágrimas secam em seu caminho formam-se ramos
eles enroscam-se em minhas orelhas, dão voltas em meus braços, abraçam meu quadril
e as flores surgem pequenas em meu pescoço, na cintura e atrás dos joelhos.

Eu tenho sentido uma grande chateação e certa angústia por causa do teu silêncio
ele me arranca desenhos cinzas e momentos inteiros de olhar-pro-teto
Te imagino sorrindo feito um bobo
sentado por cima da grama úmida de um lar de árvores
e sorrio por causa do enorme carinho que tenho por ti
Mas eu me sinto fraca e meus pés estão gelados
porque fraqueza e frio é o que sinto quando desperdiço ternura e afeto
com alguém que simplesmente me ignora.

E daí as lágrimas voltam a molhar meu rosto
agora bronzeado do mesmo sol que antes me queimava
Abro as janelas o máximo possível
e o vento vem fazer tremer os vidros e assusta meu gato gris
e ele sai correndo até a sala com paredes preenchidas de fotografias
Vou pra rua até perto daquele banquinho da praça
vinte mil passarinhos cantam preenchendo o meu vazio
e no canto deles, feito ramo de flor, eu enrolo-me.

12.8.12

Eu e tu cheíssimos de letras e ideias e sonhos
és um menino-menino magrelo com um gato preto no colo
és um menino-moço com cabelos compridos e um cavalo chamado Morcego
és um menino-pai que me ama, que me ajuda, que me ampara
que me ensina, me entende, me alegra, me felicita
que me conhece, me orgulha e me faz ser muito apaixonada por ti


Em um mundo tão cheio de coisas feitas pra vendaecompra alucinada
dentro de caixas enfeitadas de vidros coloridos sem janelas
pra ninguém ver que o dia se vai
ou dentro dos carros onde as pessoas cantam com a rádio
e além do mar do céu das montanhas pequenas ao nosso redor
o sol se vai, levando mais um dia consigo
- é o segundo domingo de Agosto e alguém decidiu que é data dos pais


Em um mundo tão cheio de paredes e muros e portas
que impedem o voo do vento por cima de toda a terra que existe
eu deixo que o vento voe por entre teus cabelos-folhas negros, pai
e eu exalo gratidão, amor, carinhos e muito afeto pra ti

Em um mundo tão cheio de concreto e cimento e tijolos
cheio de pessoas-maquiagens pessoas-sapatos
pessoas-roupas pessoas-corpos pessoas-coisas




obrigada por ter me feito pessoa-flor.
Eu te amo.