28.5.12

Eu sou o Atlas, meu bem, pode deixar que eu aguento
eu vou segurar o mundo inteiro em minhas costas pra você permanecer leve.
Pode deixar que nada vai te atingir enquanto eu estiver aqui
apesar de eu sentir alguns ossos meus quebrando e meu sorriso desvanecendo.
Eu vou suportar a chuva entristecida que cai da nuvem sobre o nosso teto
- nesses últimos tempos o céu tem se banqueteado com minha vida
e com minha vontade de mexer qualquer músculo.
Meus pensamentos pararam. Meu coração também parou.

Eu me sinto no engarrafamento que encheu as ruas de hoje à tarde:
travada, inútil e ocupando espaço.
As buzinas preenchem o silêncio que tanto gosto.

Não parece um pouco estranho eu escrever assim tão dramática?
Talvez tenham enfiado um gancho por dentro da minha carne
e tudo o que sai são filetes de sangue azul e roxo enroscados na ponta
E dos machucados pelos quais o gancho entra e sai cada vez que puxam minha corda
- que nunca estoura -
meu corpo aproveita pra derramar pelo chão todos os seus males.



Tudo em mim agora é cinza, meu bem, e você nem percebeu.

4.5.12


Eu respirei Tristeza do ar e ela virou a pele do meu corpo
agora infiltra-se em tudo que eu toco
As fibras do tecido das minhas roupas viraram Decepção
e todo dia eu sinto Frio
E Solidão maltrata a minha alma,
desfazendo com a ponta dos dedos a rede que me prende em você.

Sonho me leva pra dentro da noite e me tranquiliza
enquanto as coisas por aqui permanecem Invisíveis
porque você não olha pra cá.


Alheio ao mundo, você olha a Vida passando pela janela
e o roxo da Noite te faz enxergar as estrelas
Uma fumaça cinza pode representar o que você talvez falaria pra mim,
já que ela sai de sua boca,
mas você não me dá atenção há muitos sóis.


Você chega e vai embora às pressas, de volta pra Rua
não tem mais Tempo pra me sentir por perto, mesmo eu tão próxima
- e quando fica por aqui é pra me deixar sozinha de novo.

O Corvo do Poe acabou de pousar no meu ombro e me disse
"Não há nenhuma espécie de gratidão".