25.2.12

-A rajada de vento veio forte dessa vez, cabelos de sopro e suspiro.
-Eu percebi, minha senhora, e senti em minha pele também.
-Escute o som lá de fora enquanto eu remendo teus cortes e teus vestidos rasgados.
-Foi o vento que passou forte, rápido e gelado demais, minha senhora. Cortou o meu rosto como se fosse uma lâmina muito afiada e o sangue respingou pela neve e nos vidros da janela. E quando eu fui tentar limpar, forcei demais e o vidro quebrou em minhas mãos também. Arde a todo momento e eu me sinto cada vez mais vazia.

Minha senhora afagou meus cabelos de sopro e suspiro enquanto eu choramingava.

-Por onde teus pés andaram, que estão sujos dessa maneira?
-Eu andei pelos quintais vizinhos e são desagradáveis. Algum animal grande me perseguiu até o final do terreno da casa roxa ali atrás, aquela que tem sempre um velho sentado à porta, me xingando de sonsa. Eu pulei os arames-farpados e me esborrachei nas pedras da frente. Talvez meus lábios estejam um pouco inchados agora, minha senhora.
-Segure em minhas mãos e venha cá, cabelos de sopro e suspiro. Talvez você precise de um passeio.

E eu saí tropeçando pelo chão da casa que gemia de velha, e rangia. E fizemos várias curvas e senti asfalto, subimos uma rua que não tinha fim e, então, paramos. Abri os olhos e só enxergava os cabelos soltos, vermelhos-rubro, de minha senhora. E seu perfume de amora me deixando tonta. Ela afagou os meus cabelos de sopro e suspiro e fez uma trança que chegou até o meio das minhas costas, perto de um dos rasgos do vestido.

-Cabelos de sopro e suspiro, tu és um desajeito completo.

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