Uma vez você completou um jogo do Mario e eu chorei de alegria e emoção, porque eu me senti feliz. Além das paredes daqui de casa, algumas com fotos e desenhos colados com fita, uma azul, uma com cheiro de cigarro, eu escuto as suas músicas. E o brilho das luzes natalinas deixam a sua sombra engraçada na parede, e tudo é riso, e você dança.
Você é uma parte de mim. Eu não gosto das suas músicas, e você não gosta de minhas ordens. E todos dizem que somos muito parecidos...
Os fios que nos ligam são laços de sangue e cabos de videogame. E nossos tesouros eram carrinhos velhos e bonecos do Comandos em Ação. Eu me lembro da gente se empanturrando de comidas na casa das vós, de você sempre comigo, das brincadeiras, e tudo é riso. Aprendendo a dar fatality e a não ser fresca. Virando noites pra completar Mario World no nosso Super Nintendo roxo e cinza. E você fica sem graça quando eu lhe encho de abraços, e quando eu digo que lhe amo. E é verdade.
Eu me lembro de você falando enquanto dormia. Me lembro daquela vez que a sua cama quebrou e você fez um cartaz do "barco da Globo". Me lembro de você me ensinando a desenhar, da gente brigando muito, se batendo, e crescendo. Jogando ping-pong na mesa da sala, brincando com os dálmatas, com os gatos, dando cambalhotas nos sofás. Me lembro daquela vez que você me perseguiu pelo apartamento com a vassoura e quando tentou bater em mim, ela voou pela sacada. (xD)
Apaixonados por videogame, Dragon Ball, Pokémon, Harry Potter, chicletes e esportes. Você no campo e eu na quadra. Eu sou você. E nós somos pra sempre.
21.12.11
11.12.11
Distractio-passer-lazurd*
Durante a madrugada o Senhor Pássaro Azul saiu de sua casa e passeou. Sentou-se em um banco e cantou até amanhecer. "Tristeza, de novo?". Não. Foi um canto tranquilo, e até um pouco feliz. O Senhor Pássaro Azul virou o bico pros lados e enxergou uma Senhora Árvore, sua casca grossa contava histórias bonitas do tempo que já passou. E viu uma Senhora Sol, senhora pro mundo onde ele estava assim como era pros cherokees, Senhora Sol cheia de vida, de fogo, vermelha-sangue. Sangue tão poderoso quanto os tantos litros jorrados pelas terras dos astecas, pelo Sol que pra eles é deus, que deixa um rastro de sangue no céu toda vez que a Noite chega. Noite que vem cheia de Estrelas, inúmeras, pontos de luz, meninas cobertas de pele e penas luminosas.
E o Pássaro Azul sentado no banco.
Dona Senhora Árvore remexeu-se sonolenta e espreguiçou-se. "Por aqui as estações andam ao contrário; certo que me parece que estamos no Norte, mas tenho a impressão de que no Norte não existem pitangas. Mas se não estamos no Norte deveria estar tão quente, Senhor Pássaro, você sabe, não é? E se tudo isso de fato está acontecendo, onde estão minhas flores?".
E o Pássaro Azul sentado no banco olhando ao redor.
Pintaram flores e estrelas e morangos no muro. Flores pra Senhora Árvore, e estrelas pra Noite que vem muito escura, pro céu ao alcance das mãos, e morangos pra meu pai que caminha manco com suas botas de borracha e que aos domingos me chamava pra dar banho nos dois dálmatas que eram meus amores. E que escreve e distribui poemas pelas ruas das cidades. E que me cuida quando tenho febre - e eu as tenho tão frequentemente...
E o Pássaro Azul sentado no banco viu outra árvore ao seu lado.
Seis anos e um joelho esfolado, um band-aid laranja no cotovelo também machucado na queda da bicicleta, uma tarde quente de verão. Uma criança corria ao longo da praça até a pitangueira. "Mamãe não me deixou comprar picolé de tutti-frutti daquele velho que vive por aqui... mas eu ainda tenho as pitangas". E subiu o mais alto que pode, até um galho quebrar e ela cair. Outro joelho esfolado.
E o Senhor Pássaro Azul escutou a Pitangueira choramingando, esquálida, esquecida.
"Eu penso que a estação logo muda, Senhora Árvore. Pois veja você, hoje eu cantei mais do que o costumeiro, e aquela criança vem sorrindo correndo pra cá em câmera lenta. Você sabe, não é? A Pitangueira está sorrindo também, veja você. E há flores por todos os cantos... e lá vem a filha do poeta comendo morangos, tropeçando pelas ruas, Caos em seus cabelos".
E o Senhor Pássaro Azul sorriu.
(E eu ordenei um "pause" porque a vida anda difícil.
E eu pintei um quadro porque parecia que tinha cheiro de felicidade.
E na minha memória tão fraca, tudo isso ainda existe. E flui e se mistura.
Tem um pôr-do-sol na minha geladeira.)
*"Distração" (latim)-"Pássaro" (latim)-"Azul" (árabe)
E o Pássaro Azul sentado no banco.
Dona Senhora Árvore remexeu-se sonolenta e espreguiçou-se. "Por aqui as estações andam ao contrário; certo que me parece que estamos no Norte, mas tenho a impressão de que no Norte não existem pitangas. Mas se não estamos no Norte deveria estar tão quente, Senhor Pássaro, você sabe, não é? E se tudo isso de fato está acontecendo, onde estão minhas flores?".
E o Pássaro Azul sentado no banco olhando ao redor.
Pintaram flores e estrelas e morangos no muro. Flores pra Senhora Árvore, e estrelas pra Noite que vem muito escura, pro céu ao alcance das mãos, e morangos pra meu pai que caminha manco com suas botas de borracha e que aos domingos me chamava pra dar banho nos dois dálmatas que eram meus amores. E que escreve e distribui poemas pelas ruas das cidades. E que me cuida quando tenho febre - e eu as tenho tão frequentemente...
E o Pássaro Azul sentado no banco viu outra árvore ao seu lado.
Seis anos e um joelho esfolado, um band-aid laranja no cotovelo também machucado na queda da bicicleta, uma tarde quente de verão. Uma criança corria ao longo da praça até a pitangueira. "Mamãe não me deixou comprar picolé de tutti-frutti daquele velho que vive por aqui... mas eu ainda tenho as pitangas". E subiu o mais alto que pode, até um galho quebrar e ela cair. Outro joelho esfolado.
E o Senhor Pássaro Azul escutou a Pitangueira choramingando, esquálida, esquecida.
"Eu penso que a estação logo muda, Senhora Árvore. Pois veja você, hoje eu cantei mais do que o costumeiro, e aquela criança vem sorrindo correndo pra cá em câmera lenta. Você sabe, não é? A Pitangueira está sorrindo também, veja você. E há flores por todos os cantos... e lá vem a filha do poeta comendo morangos, tropeçando pelas ruas, Caos em seus cabelos".
E o Senhor Pássaro Azul sorriu.
(E eu ordenei um "pause" porque a vida anda difícil.
E eu pintei um quadro porque parecia que tinha cheiro de felicidade.
E na minha memória tão fraca, tudo isso ainda existe. E flui e se mistura.
Tem um pôr-do-sol na minha geladeira.)
*"Distração" (latim)-"Pássaro" (latim)-"Azul" (árabe)
5.12.11
Caleidoscópio monocolor
Um homem alto está pintando as paredes da casa d'outro lado da rua. Branco. Por quê branco? Dois ônibus azuis se cruzam diante de meus olhos e dentro deles existem mundos. Tanta vida cá fora ali dentro. Eu gosto de ônibus-mundos, são bons lugares pra ler enquanto o destino futuro não chega. Melhores são os livros.
Meu pai falou que vai dar tempestade hoje. Comprei um guarda-chuva amarelo pra fingir que ainda tenho sol. E tomara que as pipas não desistam de voar, apesar da água.
Aquela moça vizinha pendurou uma canga na janela. Quando chega a noite ela desmancha a cortina improvisada pra olhar pro céu, e assobia pra lua que nessa semana cresce. Mas hoje vai tempestuar e ela talvez não queira ver as lágrimas do céu. Silenciosos assobios. A casa que branqueia vai manchar, fluida. Talvez se chovesse colorido, talvez...
Na noite do último dia de Saturno pela janela o céu viu uma menina jogada por cima da cama, enrolada em um cobertor calorento. A menina clamava por alguém. E chorava e chorava tanto e tanto... Corações não resistiriam. O céu viu as lágrimas dela molharem o travesseiro e fazerem uma mancha de tristeza. Lágrimas de céu manchando a parede branca.
As nuvens estão explodindo de dor. Elas enxergaram um menino afogado em uma poça. A placa falava que a poça era de Felicidade.
Meu pai falou que vai dar tempestade hoje. Comprei um guarda-chuva amarelo pra fingir que ainda tenho sol. E tomara que as pipas não desistam de voar, apesar da água.
Aquela moça vizinha pendurou uma canga na janela. Quando chega a noite ela desmancha a cortina improvisada pra olhar pro céu, e assobia pra lua que nessa semana cresce. Mas hoje vai tempestuar e ela talvez não queira ver as lágrimas do céu. Silenciosos assobios. A casa que branqueia vai manchar, fluida. Talvez se chovesse colorido, talvez...
Na noite do último dia de Saturno pela janela o céu viu uma menina jogada por cima da cama, enrolada em um cobertor calorento. A menina clamava por alguém. E chorava e chorava tanto e tanto... Corações não resistiriam. O céu viu as lágrimas dela molharem o travesseiro e fazerem uma mancha de tristeza. Lágrimas de céu manchando a parede branca.
As nuvens estão explodindo de dor. Elas enxergaram um menino afogado em uma poça. A placa falava que a poça era de Felicidade.
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