ontem eu vi o dia virar noite
na revirada do tempo num vento quente
que trouxe nuvens e raios
e um céu mordido
azul-marinho
anteontem um poste explodiu bem em cima de mim
outra vez
eu vi o poste piscando metros antes
sem entender
e ele explodiu bem em cima de mim
outro poste
outra vez
a rua ficou completamente escura
e só tinha eu e a rua ali, e o céu, e um vento quente
outra vez
e ali da rua eu pude ver milhões de estrelas
em um céu mordido
azul-marinho
sonhei contigo essa noite
tu elogiava a minha roupa
eu tava usando um dos casacos que separei antes do Natal e pensei em te dar
sinto saudade o tempo todo
mas a melancolia da saudade me deixa menos triste
do que a agonia que eu sentia anteriormente
já que posso escolher
e apesar do peso que minha própria decisão me dá
revisito nossos momentos que guardei em memória
com amor
pra quê rimar amor e dor?
profetizo nos desejos mais sinceros
o reencontro dos caminhos
quando tudo for mais leve, mais simples, mais solto
pro agora eu deixo minha distância e meu silêncio
já que posso escolher
apesar de todo peso que minha própria decisão me dá
porque se eu soubesse
como machuca
não amaria mais ninguém
mas pra quê rimar amor e dor?