na curva dos ventos
na ponta dos dedos
o sol explodindo o vidro das janelas
tostando o asfalto
queimando a pele
mas tem uma chuva
encharcando meu quintal
faz meses
e seu esforço e poder em me alcançar
quase constitui outra poesia
de nuvem, água, vento e raios
a chuva escorre sob os meus pés descalços
às vezes goteja na minha cama
brota no meu olho e encharca o beijo
não é justa
nem saudável
nem benéfica
é roxa feito um hematoma
daqueles que surgem no peito
quando o coração bate rancoroso
mancha as minhas cores todas
infiltra pela casa que sou
às vezes
me afoga
e à noite eu rezo num sussurro
que amanhã meu amor me ajude a segurar o guarda-chuva mais uma vez
que essa tormenta uma hora encerre
que o vento que assovia na rua da praia
assovie dentro das nuvens da chuva roxa
deixe tudo mais leve
dissipe-as