eu desobedeci as placas, pulei os muros
e quebrei as janelas
enquanto vinha, corri fugindo de mil cachorros brabos
debaixo de um sol de muitos calores
deitei no telhado de uma casa preta
e vi as cores das roupas do varal derretendo
eu morri
me levantei tonta de fome e cansaço
me apoiei nos joelhos e, olhando em frente,
eu vi o Sol vomitando fogo no horizonte
e congelei
te puxando pela manga do casaco
sussurrei -não me perdoe por esse amor gigante
que te assusta
mas me diga se anseias por ele, que eu te amo
tu me olhaste, piscando os olhos
e resolveu se agarrar em outras atrás de muros brancos
ou por cima de bancos amarelos
e meu coração, bobo, grande e vermelho
sangrado de sentimentos
parou por dois segundos
virei pro outro lado do céu
pra perceber que eu vivo sempre em ciclos
é tipo a roda da fortuna
ou a correia da bicicleta
eu sempre volto pra um porto
o mais cheio de luz de todos
por cima do mar eu deixei meu barquinho
e fui pela areia até o farol
pra assistir embaçada de lágrimas e suspiros
uma Lua completando seu ciclo de gravidez