27.10.12

Sobre as combinações de fios e as vidas (s)em cores

Cloto* tece meu fio da vida em linhas banhadas de cores
segura o fuso e fia, cuidando da vida de deuses e humanos
durante todos os muitos movimentos terrestres
em seu aposento celeste, intocável
ao lado de suas outras duas irmãs, fúnebres

Eu passei minha vida metamorfoseando tais cores
corpoalmacoraçãoemente
Meu eu de agora não se reconhece em meu eu de alguns poucos anos atrás
eu não sei explicar se isso é bom
mas me sinto em paz durante quase todo o tempo

Láquesis* sorteia minha passagem em vida
puxa e enrola o fio que Cloto lhe oferece sem sorrir
A Roda da Fortuna gira e gira feito a roda-gigante verde da praça
acho que agora estou no período inferior
menos desejável
ou talvez eu só esteja olhando as coisas de cabeça pra baixo
e ainda não percebi


Em que momento de tantas estradas,
sorrisos, sangue, suor e letras
meu fio enroscou em tantos outros fios?
E por quê?


Sinto que Átropos* afastou o pequeno nó
que eu deixei formar na minha linha
com outros fios
E, sem tirar a vida de nós, afastou-os enquanto eu lacrimejava

Mas algum nó em minha mente permanece...



Ontem conversei com um Leão vermelho e o que ele me disse ecoou em sonhos
"Não gaste essa tua energia tão linda com esses pensamentos, menina
o que as pessoas fazem às vezes é muito pequeno diante de tudo do mundo


Nós estamos no caminho
e tu és luz"





*Moiras, mitologia grega - três mulheres responsáveis por fabricar, tecer e cortar o fio da vida de todos os seres.

20.10.12

De marinheiro

Paivatar fiou outro de seus tecidos dourados
e me presenteou, fazendo dele um vestido em tubo
enrolando-me desde os seios até pouco acima dos joelhos

e então assoprou minha nuca e sorriu
"vá e se deixe sentir, pedaço de mim"

meu amor resolveu nascer
rasgou meu lado interno com suas mãos leves
de amor sempre sincero, bondoso, puro
amor de menina
camada por camada até o exterior
aí esses meus olhos marearam e eu sorri
pro amor-meu sentado em minha frente feito Desperto
ele sorriu-me de volta,
lambeu o suor que escorria das minhas têmporas
doce

na ponta do lençol, ele fez um rasgo como fez em meu ventre
e passou o pano pela minha cintura,
delineando o curvar desse corpo-alma
que, agora desperto, ajeita a cama enquanto canta
e põe na infusão a canela recebida das mãos da avó

um nó de marinheiro enroscou tudo ao final
trempe, chicote ou singelo
depois ele trançou meus cabelos

e pôs as mãos leves nas minhas costelas




Crescente é a Lua no céu muito escuro
e ela sorri pra mim também...





Paivatar: descrita no poema finlandês "Kalevala" como a Virgem resplandescente, é uma deusa solar fiandeira, deusa do verão. O tear que ela tecia para si era de ouro; para sua irmã, Suvetar, a deusa da primavera, era de prata.

1.10.12

6:59 AM - Shane Koyczan

eu tenho dito
que as pessoas no exército
fazem mais às 7 am
do que eu
em um dia inteiro

mas se eu acordar
às 6:59 am
e ir até você
para traçar a linha dos seus lábios
com os meus
eu terei feito o suficiente
e não terei matado ninguém
no processo.