Teus braços formaram um tecido ao meu redor, que caiu bem em meus ombros; tecido bonito, macio, parnasiano. O abraço foi rápido. O leito era pequeno mas tu te encaixaste nele de uma forma confortável e dormiu, ainda com o chiclete de hortelã na boca. O teu cabelo desarrumado, comprido e preto seguia as ondas do travesseiro que seguia as ondas dos teus sonhos. Eu te escutava falar enquanto dormias, contando peripécias, e a minha risada de volume controlado te deixava um pouco mais desperto.
Duas horas inteiras te olhei a dormir, preocupada com o calor, com a tua improvável doença, com a tua insanidade, pequeno irmão. E então o dia amanheceu e eu fui embora, e não voltei mais, não te vi nunca mais.
Não te consideres importante. É só porque tu pareces uma criança enquanto dorme.