Daqui eu vejo pequenos meteoros desenhados no asfalto pelo derivado fóssil. São todos multicoloridos, e vêm descrevendo um movimento muito reto em minha direção. Mais adiante é o momento dos picotes de papel tomarem conta da rua ainda muito úmida depois do temporal da manhã, e um raio de sol reflete no vidro sujo do prédio de tijolos.
Depois da ponte que tem acima do rio seco, vejo meus primos brincando com as algas trazidas da praia que só conheço pelo mapa. Os dedos deles ficam salgados e eles lambem o sal de tal maneira que é como se mergulhassem na parte mais profunda do mar. Seus sorrisos afastam de mim a aleatória vontade que tenho de fugir para qualquer lugar com meus jeans usados, e minha cabeça acompanha o vai-e-vem do balanço agora deixado para outra hora, substituído pelo lanche da tarde, com quitutes de nossa avó.
E o céu agora é rosa-vermelho-laranja, e apesar de estar um pouco apertado aqui dentro do ônibus eu continuo sorrindo e olhando pra cima.