O sol estava nascendo, e jogava nos olhos dela seus pequenos raios de luz. Ao desviar o rosto da claridade, pensou nele mais uma vez. E pensou na forma como o sorriso dele também a iluminara.
Já há algum tempo não pensava nele e em tudo que ele a fez sentir. Em como o abraço dele, quente, perfumado e completamente encaixável com o corpo dela, a fazia voar pra longe de qualquer coisa -importante ou não- que estava acontecendo ao seu redor. Lembrou dos carinhos dele, da mão dele passeando levemente pelas suas costas, pelo seu cabelo, pelo seu rosto e suas bochechas vermelhas da timidez que ela não controlava. Era assim sua vida com ele, apaixonada e tranquila.
Era. Ele partiu, levando consigo toda a ilusão, a paixão e os carinhos. Mas não foi porque ele quis, e foi rápido, até. Mas nada silencioso. O caminhão bateu de frente com a moto vermelha, na qual ele tantas vezes a levara pra ver o pôr-do-sol. E ele voou, não do jeito como voava quando eles estavam juntos, mas do jeito que, quando se pousa, não há mais como voar. Nem ao menos andar. E, no caso dele, respirar. Respirar o perfume dela. Respirar o ar doce que vinha quando ela sorria. Respirar o amor que eles sentiam. Respirar ela. Ela.
Ela, sentada no banco do carro, alheia ao mundo, e desviando seu rosto do sol. E, ao desviar seu rosto, desviou seu rumo. Bateu na árvore do acostamento, muito maior e mais forte que seu automóvel. Ela não voou, mas também já não respira.