Um pouco de tempo na janela todos os dias faz certas coisas mudarem bastante. O vento passa incessantemente, e faz os papéis em cima da mesa voarem livres pela sala com teias de aranha em um dos cantos, faz as folhas do livro em cima do sofá ensaiarem alguma dança suave, faz o cheiro de tempero que vem da cozinha espalhar-se por todos os cinco cômodos do apartamento.
Agora, do morro que eu vejo, treze pipas coloridas cortam o ar como se fosse fácil ser mais leve do que nem ao menos se pode ver, e o vento se engraça e as faz subir cada vez mais. Elas perdem-se no azul do céu. Elas sugerem essa vida mais leve. Elas esperam o vento parar, pra poderem voltar ao chão, às mãos de seus donos, ao lugar do quarto reservado especialmente pra cada uma delas. Mas qualquer dia desses, sopra outro vento e elas voam de novo, e aí será como se nunca tivesse acontecido.
E talvez seja assim mesmo que eu esteja agora: esperando. Esperando, assim como as pipas esperam um dia pararem de voar. Esperando, mas com uma esperança finita e, tenho que admitir, bastante pequena. Mas ela existe, e é isso que me faz continuar esperando. Quem sabe isso acabe também, mas quem sabe um dia isso retorna. Nunca se sabe, afinal.