A lua da Tarsila vai iluminar meus passos meio tortos
refletirá no mar fazendo uma trilha pequena até um barco
enquanto a bailarina ao meu lado também caminha e me conta sobre seus dias,
sobre brincar de ser mulher, enquanto grampos de cabelo - aqueles de avó -
caem de sua bolsa e são esquecidos pela rua escura
Talvez a grama se enrosque em meus pés e faça cócegas
e pra cima da minha perna suba uma planta cheia de flores que logo murcham
Nós chegaremos ao portão que procurávamos
e lá dentro coisas diferentes se revelarão para nós, como em um tarô
no qual as cartas de Copas talvez não façam tanto sentido
A bailarina cantará em uma oitava linda e as pessoas ficarão encantadas
(esse jeito muito bruxólico dela,
ela que guarda em seus olhos mil feitiços sussurrados)
e dançará pelo cimento sem se sentir muito segura, pois seus ossos parecem tão fracos
e então seu pé quebrará
Ela, desolada, correrá mancando até a rua
sua maquiagem ficará toda borrada, porque ela chora e porque ela sente muito
E eu estarei ali até que tudo fique bem, ajeitando seus cabelos lisos
para as próximas apresentações difíceis de sua vida às vezes cinza
Quando as Três Marias estiverem quase alcançando o mar
eu conversarei sobre estrelas e africanidades com um menininho
que pensa que descobre as coisas de um jeito fácil
Mas eu sou um tanto complicada, menininho,
eu seguro a bailarina e meu gato e meu mundo no colo, sem vacilar
e apesar do joelho machucado
e eu não me machuco assim tão fácil, porque já vivi isso antes
E tu sabes, menininho com cheiro de chá,
existem vidas mais difíceis que a sua
mas eu estarei por aqui pra rir de ti e sentir frio.
Um comentário:
para de ser tão fofa!! até escrevendo és extremamente meiga! :) muito, muito gostoso te visitar aqui...
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