Um homem alto está pintando as paredes da casa d'outro lado da rua. Branco. Por quê branco? Dois ônibus azuis se cruzam diante de meus olhos e dentro deles existem mundos. Tanta vida cá fora ali dentro. Eu gosto de ônibus-mundos, são bons lugares pra ler enquanto o destino futuro não chega. Melhores são os livros.
Meu pai falou que vai dar tempestade hoje. Comprei um guarda-chuva amarelo pra fingir que ainda tenho sol. E tomara que as pipas não desistam de voar, apesar da água.
Aquela moça vizinha pendurou uma canga na janela. Quando chega a noite ela desmancha a cortina improvisada pra olhar pro céu, e assobia pra lua que nessa semana cresce. Mas hoje vai tempestuar e ela talvez não queira ver as lágrimas do céu. Silenciosos assobios. A casa que branqueia vai manchar, fluida. Talvez se chovesse colorido, talvez...
Na noite do último dia de Saturno pela janela o céu viu uma menina jogada por cima da cama, enrolada em um cobertor calorento. A menina clamava por alguém. E chorava e chorava tanto e tanto... Corações não resistiriam. O céu viu as lágrimas dela molharem o travesseiro e fazerem uma mancha de tristeza. Lágrimas de céu manchando a parede branca.
As nuvens estão explodindo de dor. Elas enxergaram um menino afogado em uma poça. A placa falava que a poça era de Felicidade.
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