12.11.11

E se eu escrevo sobre ir embora é porque estou vazia

Eu me fingindo em tranquilidade enquanto a porta do quarto abre, mas o peito ainda arfa demais e me entrega. "Saia daqui". Eu queria poder ter gritado isso, mas eu só pensei. Os dedos passearam pelo balcão e musicaram uma canção velha que eu sempre detestei - e essa pessoa que meu viu transbordar de loucura sabia disso.
"Acho que pra mim já é suficiente". Bafo de café frio saiu feito névoa da boca, um assopro de dias de inverno na primavera. E eu implodia me enrolando em um lençol de flores.
"Da sua espinha dorsal eu puxei com uma agulha um fio de alma, dourado de amor estúpido". E as minhas mãos estavam atadas à tua nuca. Eu desaprendi a dançar, tu vês? E a morte seria de fato mais suave, mas morrer é trágico, sem graça e sem sabor. E eu queria sal, açúcar, ácido, veneno e nuvens.
Da minha janela eu assisti a um show macabro de fogo. O sangue escorreu até a calçada e foi pro esgoto pelos bueiros, e os gritos agudos e graves melodiosos turbularam o ar. Eu precisava de um pouquinho de morte sem cheiro.
De noite eu vi a lua cheia dançando no céu e na parede ela fez sombras infantis. Um, dois, cinco monstros e um corvo. Eu me fingindo em interesse com o rosto esquentando em um conforto solitário. "Por pouco tempo, talvez"... "Talvez eu logo volto"... Meu corpo doía. "Talvez". Levantei e fui até a janela pra ver a pessoa atravessar o portão enferrujado. "Fim?"

Um comentário:

Anônimo disse...

qro, mais!










lindja!