7.10.15

passei o dia

me recheando de silêncio
assim como o dia passou bastante silencioso por mim
a não ser aquela trituradora de cana-de-açúcar na feira por onde passei
e a grama molhada da chuva inconstante grudou na saia que eu usava
a grama grudou, grudou um pouco de terra, a chuva grudou na minha pele
e
eu
sus
pirei

quanto do que eu escrevo é real dentro e fora de mim quanto do que eu escrevo é pra me fazer acreditar quanto do que eu escrevo é mentira quanto do que eu escrevo é pra fazer acreditar quanto do que eu escrevo me habita tudo do que eu escrevo é porque eu pego essa minha cabeça e esse meu coração e minhas dores e medos e amores e anseios e desejos
e
chacoalho
e espremo
até sobrar só o bagaço
igual sobra de cana-de-açúcar triturada depois de retirado o caldo
às vezes eu guardo tudo em uma jarra bem bonita na geladeira
às vezes eu jorro tudo gramados afora

hoje eu parei a bicicleta do lado de um dos banquinhos da beira-mar
esse era o banquinho onde eu dava meia-volta quando comecei a pedalar com mais afinco
era só até onde eu conseguia chegar numa ida-e-volta sem perder tanto o fôlego
hoje eu quero devorar as ruas e estradas e chãos que se apresentam diante de mim

o mar revolto por um vento que anuncia as tempestades que virão formava ondas
coloridas de terra
e eu senti um frio igual àquele que dá na gente naqueles fins de tarde depois de um dia de praia de banho de mar
que a gente insiste em permanecer na areia mesmo sabendo que vai morrer de frio com o vento que vem
o vento mensageiro de tempestades chacoalhava um barquinho colorido
igual meu coração chacoalha aqui dentro o tempo todo
às vezes eu acho que o barquinho vai virar de cabeça pra baixo vai todo mundo morrer afogado
às vezes eu acho que quem tá no barquinho deu um jeito de criar asas
e já tá lá longe voando nadando no céu


eu parei a bicicleta do lado de um dos banquinhos da beira-mar
e esse era o banquinho onde eu dava meia-volta quando comecei a pedalar com mais afinco
era só até onde eu conseguia chegar numa ida-e-volta sem perder tanto o fôlego
mas hoje eu parei a bicicleta lá só pra olhar o mar se revoltando dentro dele mesmo



e eu quero devorar as ruas e estradas e chãos que se apresentam diante de mim
e além
e eu vou

Um comentário:

Fado disse...

Onde anda a quem procuro a direção , não pode tirar férias pois só você me deixa ser dramático como fui.
Volte logo, luz do sol