28.5.12

Eu sou o Atlas, meu bem, pode deixar que eu aguento
eu vou segurar o mundo inteiro em minhas costas pra você permanecer leve.
Pode deixar que nada vai te atingir enquanto eu estiver aqui
apesar de eu sentir alguns ossos meus quebrando e meu sorriso desvanecendo.
Eu vou suportar a chuva entristecida que cai da nuvem sobre o nosso teto
- nesses últimos tempos o céu tem se banqueteado com minha vida
e com minha vontade de mexer qualquer músculo.
Meus pensamentos pararam. Meu coração também parou.

Eu me sinto no engarrafamento que encheu as ruas de hoje à tarde:
travada, inútil e ocupando espaço.
As buzinas preenchem o silêncio que tanto gosto.

Não parece um pouco estranho eu escrever assim tão dramática?
Talvez tenham enfiado um gancho por dentro da minha carne
e tudo o que sai são filetes de sangue azul e roxo enroscados na ponta
E dos machucados pelos quais o gancho entra e sai cada vez que puxam minha corda
- que nunca estoura -
meu corpo aproveita pra derramar pelo chão todos os seus males.



Tudo em mim agora é cinza, meu bem, e você nem percebeu.

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