27.4.12
Cinco segundos lentos
O sol brilhou enquanto você nascia, meu bem?
Ele cegaria os médicos se na sala de parto existissem janelas
Enormes janelas, de vidro de areia, abertas.
O vento suave bateria no rosto da sua mamãe, que sorria
E você aos prantos, ensanguentado, disse olá aos gritos
pra um mundo que às vezes é cruel.
E então no verão você saiu correndo pela grama do parque central
os balanços lhe embalaram em uma sensação boa
e as crianças ao redor também sorriam naquela hora.
Um picolé de uva derreteria em suas mãos pequenas e quentes
pintando um rio roxo até o cotovelo
e ao seu lado uma menina lhe olhava e sorria
e você pensava em quanto o mundo é grande e divertido.
E então no outono você correria apressado pra não perder o ônibus pra faculdade
seriam tempos difíceis, o começo do frio enregelaria seus ossos,
e esse início no mundo de adultos certas vezes te espancaria
porque ninguém por lá admite muitos erros.
Mamãe ofereceria um cachecol tricotado em lã amarela e vermelha
e ela sorriria, como sempre, você sabe.
E então no inverno a neve se depositaria nos seus ombros
e na neve você desenharia anjinhos com os dois filhos que agora tem
todos os dois nascidos em dias de chuva e raios.
Você seria feliz, não seria? Apesar do frio que te congelaria de vez os ossos.
Mamãe agora seria vovó, e logo mais ela seria lembranças
(existem certas coisas nessa vida que a gente não consegue evitar).
E então na primavera você estaria bem velho
rodeado de netos pra não te deixarem solitário em uma quarta-feira tediosa.
Poucas coisas agora seriam o suficiente - mas sempre foi assim, se você parar e reparar -
e os abraços se demorariam, os braços apertados ao redor de seus ombros.
As flores sorririam coloridas, igual à mamãe,
e o vento do dia do parto sopraria um pólen adocicado
recolhendo-se sobre o epitáfio de um homem que conseguiu ser feliz, afinal.
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