Bate as asas negras e desajeitadamente alcança o mais alto que o fôlego permite. Fôlego. As narinas já estão tão cheias de fumaça e de princípios de câncer, e a cabeça tão cheia de projetos arquitetônicos de ninho que não é lar.
E aí a TV anuncia a chuva que durará toda a semana, semana contada pelos giros da Terra. O bico dói porque permanece fechado, não deixa cantar, só quando o sol aparece - mas ele não aparece. "Se eu fosse um asteca, quantos eu já teria sacrificado?"
As nuvens cinzas pesadas e densas permanecem acima do topo dos prédios e o ninho começa a ser construído, com terra, com pedaços de folhas, com pedaços de grama que morreu afogada, com pedaços de si. As nuvens choram e os olhos também, porque seu ninho foi desfeito. Ninho que não é lar.
Esconde-se com sua tristeza nas ondas de um mar revolto e espera paciente pelo sol que uma hora volta, hora contada pelos giros dos ponteiros. E planeja mais ninhos que não são lares.
E quando a chuva dá uma trégua, ele constrói seu ninho. Ninho que não é lar, porque não há mais do que um, e lar é singular preenchido de plural. Então a chuva volta e o ninho não se desfaz, e é a minha vez de ficar triste, porque moro em um mundo, mundo que é meu lar, onde os pássaros aprenderam a construir ninhos de cimento.
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