Os cabelos desciam-lhe graciosos pelas costas até o quadril; originalmente cacheados, agora eram lisos, escorridos, desgrenhados, mal-cuidados, sujeitados às intempéries da cidade grande cheia de prédios. As orelhas de tamanho médio, esteticamente perfeitas. As maçãs do rosto muito magras, nunca coradas. O nariz arrebitado e muito especializado em sentir o cheiro do primeiro grande amor da sua vida: bebida alcoolica contida em garrafas de vidro ou de plástico. Os olhos eram pequenos, pálpebras pesadas, dois círculos escuros desprovidos do poder de expressão, só brilhavam se refletiam os neons alucinógenos que iluminavam as fachadas das lojas, que nunca estavam de portas abertas pra ela; só os bares a acolhiam. Os bares e os homens.
Mas ela só amou duas vezes durante sua passagem pelo mundo, aliás. O álcool e um só homem.
Do homem teve dois filhos. Desde a primeira conversa veio a certeza de querer engravidar dele, já que ele pagou tão gentilmente qualquer pedaço de massa pingando azeite fétido e com a carne por dentro fria, dura e semicrua, mas que agradou o paladar pouco refinado. Do restaurante de estrada foram para uma casa qualquer e seis meses depois saía dela uma criança morta, que ela jogou na privada do barraco onde foram morar e deu a descarga.
O segundo filho a fez sofrer nove meses inteiros e ainda mais duas semanas. Ela quase morreu segurando o guri dentro do ventre, se fez inumana para tanto, mas tinha um propósito: "assim o cérebro dele ficará maior e ele será mais inteligente do que todas as crianças daqui e eu terei pelo menos um orgulho na vida". O sonho se desfez assim que o pequeno Einstein nasceu, deformado e sem as mãos.
Raivosa, matou-o. E fez do cérebro superdesenvolvido a janta da noite que sorria de escárnio, toda estrelada.
*Nome yidish, de origem germânica, significa "amada". Leeba também é usado em Israel, com origem hebraica, significando "coração".
Um comentário:
Eu AMO esse texto. ♥
É perfeito.
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