Mas deixa o vento mexer nesse céu que mais parece feito de algodão. Deixa as nuvens se espalharem e se misturarem com esse cheiro agridoce que vem da janela do prédio azul aqui atrás. Acho que é isso aí mesmo, centenas de nuvenzinhas agridoces espalhando-se pelo céu azul-amarelo-laranja-vermelho quando o sol está dando lugar pra lua. Milhares de nuvenzinhas agridoces querendo fazer parte do pedaço de céu que eu olho enquanto tu estás indo embora. E eu conto teus passos, que separam as nuvens com sabor, e é como se o doce do agri me fosse enjoativo, e o agri do doce me fizesse muito mal. És um veneno pra mim, cuja dose aumenta cada vez que te vejo, e eu me forço a sofrer só pra te ver mais um pouco, sabendo que quando tu fores embora sequer o agridoce existirá pra mim.
Deixa eu te falar do que acontece quando tu estás perto? É agri e doce ao mesmo tempo. É tudo e nada, é essencial e irrelevante. É tão bipolar que me vicia, porque eu não tenho certeza do que o amanhã reserva pras minhas nuvens, elas podem chover cachorros, ou então abrirem-se majestosas pro sol que um dia ainda vai parar de brilhar. É tão bipolar que me vicia, todo dia de uma forma diferente, porque és exatamente assim. Em um dia és cedo, em outro és tarde. Perto do almoço hoje, e madrugada - quem sabe? - amanhã. És igual a mim agora e meu exato oposto em questão de centésimos de segundos. És tão irregular, e mesmo assim eu te prefiro aos outros. Porque sempre faz com que minhas nuvens tenham uma surpresa toda vez que tu resolves aparecer, porque sempre as desmancha e as reúne de um jeito diferente, porque sempre me surpreendes com teu jeito disforme, mas sempre com esse gosto agridoce.
É, é assim que tudo parece quando estás perto de mim.
Senhor agridoce, és pra mim agora o único dono das minhas nuvens. E eu sequer conheço o timbre da tua voz.
Um comentário:
"É agri e doce ao mesmo tempo. É tudo e nada, é essencial e irrelevante. É tão bipolar que me vicia"
Lindo, demais, Tainah.
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